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Bebés prematuros podem ter mais doenças ao longo da vida?

9 Out 2023 - 10:57
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Bebés prematuros podem ter mais doenças ao longo da vida?

Os bebés têm até por volta das 42 semanas para nascer. Alguns bebés nascem espontaneamente no “tempo adequado”, outros nascem antes do tempo previsto e alguns nascem depois. Noutros casos, os partos são provocados por complicações com a grávida ou com o bebé.

Mas por que razão alguns bebés nascem prematuros? Quais são os riscos e os cuidados a ter? Estes bebés podem ter mais doenças ao longo da vida? A pediatra Marta Ezequiel esclarece todas questões, em declarações ao Viral.

Bebés prematuros podem ter mais doenças ao longo da vida?

“Sim, estes bebés têm maior probabilidade de ter doenças quando comparados com os bebés a termo”. Esta é a resposta de Marta Ezequiel, pediatra do Centro de Desenvolvimento da Criança do Hospital Garcia de Orta, do Centro do Bebé e do Instituto Belong, quando questionada se os bebés prematuros podem ter mais doenças ao longo da vida.

Em declarações ao Viral, a pediatra começa por explicar que um bebé prematuro pode ter complicações “precoces” ou “tardias”.

As precoces estão relacionadas com o “grau de prematuridade, com o peso e com malformações”, que se refletem, por exemplo, em “problemas respiratórios, cardíacos e metabólicos”, problemas “gastrointestinais, em regular a temperatura do corpo, e infeções”.

As complicações gastrointestinais e metabólicas são também apontadas no artigo “Growth and the Premature Baby, publicado no Hormone Research. Os autores referem que o bebé pode ter “dificuldade em mamar” e o sistema gastrointestinal não ser capaz de absorver os nutrientes, precisando de alimentação intravenosa.

O período entre as 37 e as 39 semanas de gestação é “crucial” no crescimento dos pulmões, do fígado e do cérebro do bebé, esclarece-se num artigo informativo do National Child & Maternal Health dos Estados Unidos da América. Se uma criança nascer antes das 37 semanas, é um bebé prematuro, o que poderá ter impacto no desenvolvimento destes órgãos.

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“Há prematuros em que as coisas correm bem, mas há outros que, infelizmente, vão tendo várias complicações”, afirma. 

Já as complicações tardias, cujos prematuros têm um risco “acrescido em comparação com os bebés a termo”, são “ao longo da vida”, destaca.

Neste caso, os prematuros podem ter problemas a “nível dos olhos”, como a retinopatia da prematuridade e miopia, e perturbações do neurodesenvolvimento, como autismo, paralisia cerebral, défice de atenção e dificuldades de aprendizagem, exemplifica a pediatra do Centro de Desenvolvimento da Criança do Hospital Garcia de Orta.

Hipertensão, diabetes, défice auditivo, perturbações da fala, doença pulmonar crónica são também possíveis complicações tardias apontadas por Marta Ezequiel.

Os prematuros que precisam de ventilador podem desenvolver doença pulmonar crónica ou displasia broncopulmonar, é também referido no artigo “Bronchopulmonary dysplasia of the premature baby”, publicado no Pediatric Pulmonology

À semelhança do que diz a médica consultada pelo Viral, o estudo “Adult cardiovascular risk factors in premature babies”, que analisou recém-nascidos de uma maternidade na Escócia, sugere que os bebés que nasceram prematuros e com peso muito baixo têm maior risco cardiovascular e de doenças na idade adulta do que os bebés a termo.

“As doenças tardias são mais prováveis nos prematuros, mas vai depender um bocadinho” de caso para caso, afirma a pediatra. Isto é, há “muitos prematuros” que não desenvolvem doenças ao longo da vida e que as coisas “evoluem bem”. 

O que é um bebé prematuro?

Um bebé prematuro é o que nasce antes das 37 semanas, indica a pediatra.

A nível mundial, 11% dos bebés nasceram prematuros. Em Portugal, a prematuridade é de cerca de 8%, indica a Sociedade Portuguesa de Pediatria. Por outro lado, os avanços tecnológicos e a investigação científica têm permitido a sobrevivência de “recém-nascidos com idades gestacionais cada vez mais baixas”.

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Ao Viral, Marta Ezequiel esclarece que existem diferentes classificações para a idade gestacional. Em Portugal, os profissionais consideram “prematuridade extrema” quando os bebés nascem antes das 28 semanas, “moderada” quando nascem entre as 28 e as 32, e “linear” quando nascem entre as 33 e as 36 semanas.

Há “múltiplas causas” para a prematuridade, aponta a médica do instituto Belong. É o caso da idade materna.  Ou seja, grávidas com mais idade ou extremamente jovens (adolescentes, por exemplo) têm “maior probabilidade” de ter um parto prematuro.

A hipertensão, patologia materna, malformações uterinas ou do feto, infeções durante a gravidez, hemorragias, rutura prematura da bolsa ou gestação múltipla são também fatores que influenciam a prematuridade, refere Marta Ezequiel.

Por outro lado, uma mulher que já tenha tido um “parto prematuro espontâneo” tem “maior probabilidade” de ter outro bebé antes das 37 semanas de gestação.

“No entanto, se tiver tido um parto anterior em que o bebé foi retirado pelo médico prematuramente por alguma complicação, esse caso não aumenta a probabilidade de ter outro parto prematuro”, esclarece.

Cuidados a ter após o nascimento de um bebé prematuro

Quando o bebé que nasceu prematuro vai para casa tem um “risco acrescido” de complicações. Por isso, há cuidados “muito importantes” a ter. 

Por exemplo, o bebé deve dormir de barriga para cima e os pais não devem fumar em casa, aponta a médica do Centro do Bebé.

Devido à maior vulnerabilidade destas crianças, os lugares “fechados e com muita gente” são para evitar e as mãos têm de ser “bem lavadas” cada vez que se toca nos bebés.

A prioridade deve ser o “leite materno” porque, segundo a pediatra, tem um “papel fundamental” no combate de doenças. A vacinação e as consultas também são fundamentais.

“Deve-se ter atenção aos beijinhos aos bebés porque somos portadores de muitas bactérias. Temos muitos vírus que num bebé prematuro podem ter complicações drásticas”, alerta Marta Ezequiel. 

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A pediatra considera ainda que há situações em que se tem de “balancear um bocadinho”. 

Por exemplo, no caso de um bebé prematuro, a “entrada na creche deve ser adiada” para o proteger de vírus. No entanto, se a criança parecer estar com um atraso no desenvolvimento ou, por exemplo, no espetro do autismo, o contacto com outras crianças será importante.

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Nesse sentido, o acompanhamento de um profissional é muito importante. 

“Em Portugal, todas as maternidades que recebam recém-nascidos têm protocolos definidos de consultas de desenvolvimento até determinados anos”, acrescenta.

Podemos diminuir a probabilidade de um parto prematuro?

Questionada sobre se há comportamentos que podem ajudar a diminuir o risco de um parto prematuro, a pediatra responde: “Sem dúvida”. 

Como? Com “bom planeamento e vigilância” na gravidez, responde. Isto significa tomar as vitaminas recomendadas pelo médico, ir às consultas e fazer os exames. Além disso, aponta, a grávida deve evitar hábitos tóxicos, como a ingestão de álcool e o tabagismo. 

A alimentação deve ser “equilibrada”, deve haver um “reforço hídrico” e o stress deve ser reduzido, refere a pediatra do Centro do Bebé.

“Tudo isto tem impacto. São fatores controláveis”, conclui.

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9 Out 2023 - 10:57

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